Prospecção química de espécies nativas do Cerrado brasileiro visando a descoberta de novos compostos bioativos

por João Flávio da Silveira Petruci
Publicado: 10/12/2020 - 15:21
Última modificação: 13/04/2023 - 09:43

Descrição: Desde os primórdios os produtos naturais (PN) vêm sendo utilizados pelo homem na busca pelo alívio e cura das doenças, sendo que uma das primeiras formas de utilização foi através da ingestão de ervas e folhas. Essa prática atravessou os séculos e ainda é constante nas sociedades modernas, seja por filosofia natural ou por razões econômicas de escassez de fontes alternativas. Dentro deste contexto a natureza sempre foi uma fonte de inspiração para o desenvolvimento cientifico, levando o homem a uma busca incessante pela compreensão das leis naturais e também do conhecimento químico que pudesse ser usado a seu favor para superar as barreiras da sobrevivência. Em um levantamento feito ao longo dos últimos 34 anos é possível observar que uma grande porcentagem de fármacos aprovados teve sua origem nos PN. Levando em conta que o Brasil possui uma diversidade de biomas, incluindo o Cerrado que é declarado o segundo maior em extensão, ocupando grande parte do território nacional (22%) e, no entanto atualmente desta área resta pouco menos de 10% da mata original. Sabendo que a maior parte das espécies de plantas brasileiras permanece sem estudo químico ou biológico e constitui, portanto, um potencial a ser investigado, assim, o estudo sistemático desta riqueza natural é importante e necessário, seja para validar o uso daquelas espécies utilizadas na medicina popular (conhecimentos tradicionais) ou mesmo na busca por novas arquiteturas moleculares que possam inspirar o desenvolvimento de novos fármacos ou agroquímicos. Levando em conta que os biomas ao longo do território brasileiro estão cada vez mais devastados devido à expansão antropogênica (monoculturas e pecuária), é urgente a necessidade da implementação de técnicas sustentáveis que permitam a exploração racional da biodiversidade brasileira. Para isso, ferramentas modernas de identificação, isolamento e determinação estrutural, que permitem o estudo sistematizado de alta qualidade e rápido, tem dado a química de PN lugar de destaque. É nesse contexto de prospecção de novas moléculas bioativas que temos investido esforços, visando o estudo de espécies nativas do Cerrado com potencial biológico. Com isso, esperamos contribuir para o conhecimento e uso sustentável da biodiversidade brasileira, investido na seleção racional de espécies nativas, através do resgate histórico de informações etnobotânicas, levantamento bibliográfico, documentação genética (germoplasma), química (perfil metabólico) e farmacológica (bateria de ensaios). Posteriormente, os extratos vegetais selecionados nas triagens preliminares são estudados visando à caracterização dos princípios ativos, na expectativa da descoberta de novas moléculas com potencial uso na terapêutica, na agricultura ou na pecuária. Para isso são utilizadas ferramentas cromatográficas de alta/ultra eficiência, assim como técnicas modernas de espectroscopia (ressonância magnética nuclear e infravermelho) e espectrometria (espectrometria de massas) que auxiliam no processo de descoberta e identificação das moléculas orgânicas. Nessa perspectiva, as ferramentas da química medicinal tem nos auxiliado para a seleção racional dos alvos biológicos, assim como atuar na compreensão das interações entre os protótipos de fármaco e a biofase, visando a otimização daqueles compostos mais promissores. Para o sucesso dessa proposta, uma rede de colaborações foi estabelecida, incluído grupos de pesquisa da UNESP (INCT BioNat), USP, UFU e UFTM, auxiliada pela Rede Mineira de Química (RQ-MG), visando ampliar e difundir as estratégias e metas de prospecção de novas moléculas bioativas.

 

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